De repente me deparo com: O Início da Vida na Selva Amarela
Na arte de Thornton Dial, a história dos Estados Unidos é contada sem filtro, sem verniz. O terror da escravidão, os linchamentos, tudo que faz parte da história que hoje Trump tenta destruir
Tinta de esmalte. Arame. Planta artificial. Garrafa de plástico. Tecido. A vida florescente. Uma boneca. Uma luva de borracha. A mão da divindade. A luz. O Início da Vida na Selva Amarela. Thornton Dial cresceu no Alabama segregado. Construía com o que o mundo jogava fora. Seu ateliê, um quintal. Cada pedaço de metal e trapo costurado com arame enferrujado, uma denúncia. A selva era dele. Não só dele. A arte nunca é só do artista. E queimava, gritava, sangrava.
Na arte de Dial, a história dos Estados Unidos é contada sem filtro, sem verniz.
O terror da escravidão, os linchamentos, o desprezo pelos direitos civis, o Katrina, a guerra. Tudo junto. Porque tudo faz parte da história que hoje o atual governo do país tenta destruir.
O Início da Vida na Selva Amarela é a criação a partir do caos. Um jardim distorcido onde flores nascem de escombros. Uma mão de borracha estendida ou puxando para dentro do abismo?
Dial colava trapos e sucata pra lembrar que a América nasceu assim: remendada, suja de sangue, construída por mãos negras.
O artista morreu em 2016. A obra O Início da Vida na Selva Amarela é de 2003. Vinte e dois anos depois, vejo uma selva tóxica, feita de plástico, cola quente e falsas promessas. Parece uma crítica ao governo Trump. O presidente que tenta anular o passado criando sua própria versão de realidade enquanto deporta, reprime, investe numa cruzada contra direitos civis. O planeta que se vire.
Dial falava de um país que explorava usando o descarte. Dial acreditava que a arte é para dizer a verdade. Entre um arame e uma boneca sem olho, Dial está vivo.
Eu procurava uma obra de Antonio Berni, o pintor argentino, quando conheci Dial. E parei tudo para compartilhar o pouco que aprendi sobre ele aqui.
Mais em:
https://www.soulsgrowndeep.org/artist/thornton-dial
https://artsandculture.google.com/story/xAVh0OmZY_46aA?share
Adoro os desenhos dele, amiga. E duas pinturas em particular: Remembering the Road e Running Negro.